Guerra na Ucrânia faz petróleo disparar e mercado do plástico é atingido
A guerra entre Rússia e Ucrânia provocou reações na comunidade internacional e trouxe instabilidade econômica ao redor do mundo, principalmente em se tratando do petróleo e seus derivados, que têm a Rússia como importante exportador. Natural, portanto, que o impacto econômico do conflito armado se estendesse além das fronteiras dos países envolvidos, atingindo diversos setores, principalmente os dependentes do combustível fóssil, como o do plástico.
Estamos longe geograficamente da batalha, mas muito perto economicamente quando o assunto é petróleo. Com a economia ainda convalescente dos efeitos da pandemia, temos presenciado uma sucessão de recordes recentes nas cotações do barril, o que reforça a perspectiva de que as nações tenham de enfrentar um aumento ainda maior nas taxas de inflação, que hoje já são pressionadas em muitos países justamente pelo preço dos combustíveis.
Embalagens Sob Ataque
A volatilidade do preço do petróleo em meio às indefinições do conflito no Leste Europeu reforça a pressão sobre o mercado de embalagens, em especial as plásticas, muito representada pelo setor de alimentos, que juntamente com o grupo de transportes, contribuíram com cerca de 72% do IPCA (Índice nacional de preços ao consumidor) do mês de março/22.
Segundo o IBGE, estima-se que 2022 feche acima de 7,0%. Com 37% do mercado (em termos de volume bruto de produção), o setor deve sofrer diretamente os reveses do aumento no preço do petróleo, sendo inevitável para esta indústria repassar os reajustes aos convertedores em dado momento.
“A indústria de embalagens plásticas está muito conectada no mundo todo, muito dependente das respectivas áreas de aplicação e, portanto, muito vulnerável a qualquer desbalanceamento na cadeia de produção mundial”, diz Reger Souza, Diretor de Operações da Polo Films. Segundo o executivo, os altos custos de produção na Europa e a dependência de energia da Rússia deixam o mercado apreensivo para o atendimento da demanda. “Apesar de estar muito distante do Brasil, a guerra entre Ucrânia e Rússia deve afetar o preço do plástico no Brasil”.
Segundo economistas, aqui no país o conflito deverá produzir impactos na atividade econômica e na inflação por meio de diferentes canais, como elevação dos preços das commodities, aumento da taxa de juros, falta de insumos e desvalorização do câmbio. A intensidade e duração desses entraves, porém, é algo que ninguém consegue prever ao certo diante da incerteza da duração da guerra. Fato é que Vladimir Putin dificilmente recuará em sua ofensiva. Resta saber quanto tempo Kiev será capaz de resistir.
O setor de embalagens é um importante termômetro da economia pela conexão com os bens de consumo dos brasileiros, principalmente alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza. Petróleo e alguns alimentos (como trigo e milho, produzidos em grande escala pelos dois países envolvidos no conflito) iniciaram um movimento de forte alta após o início da guerra. A tendência é de que essas cotações elevadas sejam repassadas aos consumidores e, como consequência, pressionem a inflação e reduzam o consumo.
Mais Dependência, Mais Impactos
Os efeitos econômicos da guerra, iniciada em 24 de fevereiro, já chegaram às prateleiras dos supermercados brasileiros. Ambos os países envolvidos na contenda belicista somam 30% das exportações mundiais de trigo e, no intervalo entre 1º e 12 de março, produtos como a farinha de trigo e seus derivados ficaram mais caros em relação ao mesmo período do mês anterior, de acordo com levantamento feito pela startup Varejo 360, que avaliou o preço desses itens em supermercados do estado de São Paulo.
Fato é que se a guerra se estender deve pressionar os setores industriais que dependem de insumos importados. No mais, aproximadamente 60% de todo o transporte do Brasil depende de combustíveis fósseis, razão pela qual o país está entre as economias que mais sofrerão os efeitos causados pela guerra. A conta é simples: quanto mais petróleo usamos, mais estamos expostos aos impactos econômicos do conflito. “O aumento do valor do petróleo repercute de modo imediato nos transportes, pois ele alimenta, em maior ou menor proporção, toda a produção de bens e serviços no país”, afirma Souza.
Brasil na Berlinda
Não bastasse a questão do transporte, o plástico, derivado deste combustível, é matéria-prima fundamental na composição de vários produtos, então isso acaba, inevitavelmente, gerando alta da inflação. Dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) mostram que o mercado interno brasileiro consome anualmente, em média, 7,3 milhões de toneladas do material. O produto está entre os 10 insumos mais demandados pelo Brasil.
Aos impactos à economia brasileira desencadeados pela elevação no preço do petróleo devem se somar a queda de investimentos no país e uma redução na atividade econômica europeia, o que pode comprometer a exportação de produtos brasileiros. Segundo a Abiplast, o segmento alimentício responde por 23,1% do consumo de plástico no país e, certamente, será impactado do ponto de vista de custos, com consequências óbvias para a economia nacional.
A despeito do cenário de instabilidade, Reger Souza garante que a Polo Films está preparada para enfrentar as contingências, se adaptando da melhor forma aos desafios do momento. “Nosso trabalho diário é ficar atento às rotas alternativas de fornecimento para manter a continuidade do abastecimento sem impacto na cadeia”. Ele afirma que a empresa está bem estruturada hoje para se antecipar às flutuações internacionais. “Estamos nessa batida desde o início da pandemia, que nos trouxe maturidade e conhecimento para lidar com essa crise no abastecimento global", conclui.